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Verdades secretas 2: compra de óvulos e sêmen apresentada na novela não é permitida no Brasil

Publicado em 7 de dezembro de 2021

 

Especialista em reprodução humana explica como realmente funciona o procedimento de doação de gametas, que, ao contrário do que é mostrado na trama da novela, deve ser anônimo e sem fins lucrativos.
Lúcio

A segunda temporada da novela Verdades Secretas é um dos assuntos mais comentados do momento, principalmente por abordar temas extremamente atuais e relevantes. Por exemplo, um dos tópicos levantados pela novela é a questão da “doação” de gametas (óvulos e sêmen), que é abordado na trama por meio do personagem Lúcio, um médico especialista em reprodução humana interpretado pelo ator Daniel Andrade. Na novela, o médico faz um acordo com a dona de uma agência de modelos, oferecendo dinheiro em troca dos gametas dos agenciados para usar em procedimentos de fertilização em sua clínica. Ou seja, não se trata exatamente da doação de óvulos e sêmen, mas sim da compra desses materiais genéticos, prática que, no Brasil, não é permitida. “No Brasil, a doação de gametas, sejam óvulos ou sêmen, não pode, em hipótese alguma, ter caráter lucrativo, o que vai contra os códigos de ética médica e as legislações do país”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.

Na trama, além da compra dos gametas, uma das personagens “doadoras” ainda chega a conhecer o casal que gerará a criança, outra conduta que vai contra as regulamentações sobre o assunto. “A doação de gametas deve ser anônima. É um direito do doador. Sem o anonimato, os futuros pais, assim como a criança nascida pelo processo de Reprodução Assistida, teriam acesso às informações dos doadores, o que poderia desestimular que as pessoas doem os gametas”, afirma o especialista. “A única exceção para a anonimidade da doação de gametas é quando o doador é parente não consanguíneo de até 4º grau do casal tentante, o que só passou a ser permitido em junho desse ano com a publicação oficial da Resolução Nº 2.294 do Conselho Federal de Medicina”, destaca.

Mas, afinal, como realmente funciona esse processo de doação? Segundo o especialista, a doação de sêmen é mais simples, sendo realizada através de masturbação, e pode ser feita de forma anônima e sem fins lucrativos por qualquer homem saudável entre 18 e 50 anos. Já a doação de óvulos, menos comentada que a doação de sêmen, mas igualmente importante, é um procedimento mais delicado que pode ser realizado por qualquer mulher com até 35 anos e que não possua doenças genéticas hereditárias. “Sendo precedida por um processo de estimulação medicamentosa dos ovários, que dura cerca de dez dias, a coleta dos óvulos, que é realizada sob efeito de sedação, consiste na inserção de uma pequena agulha na vagina que é guiada por um transdutor até os ovários para que os óvulos sejam aspirados”, explica o Dr. Rodrigo. E, ao contrário do que muitas pessoas pensam, o procedimento de ovodoação não interfere de forma alguma na capacidade reprodutiva da doadora, sendo perfeitamente seguro.

Após a coleta e avaliação de potencial e viabilidade, os gametas podem ser conservados em nitrogênio líquido na temperatura de -196ºC ou, caso já exista um casal receptor em busca de doador, levados para o laboratório para serem fecundados. “A partir disso, o procedimento segue como uma Fertilização In Vitro convencional, na qual, após a fecundação e um breve período de maturação, o embrião formado é inserido no útero da receptora através de um pequeno cateter guiado por ultrassom. Depois de cerca de 15 dias já é possível realizar exames para verificar a eficácia do procedimento, que, no geral, possui altas taxas de sucesso, com chance de gravidez de 50 a 60%”, explica o médico.

Por fim, o Dr. Rodrigo Rosa ressalta que, ao contrário do que muitos pensam, a gravidez por doação de gametas não reduz o papel de pais do casal receptor, afinal, são eles que garantirão que a criança cresça feliz e saudável. “E é fundamental que temas como esses sejam cada vez mais discutidos na grande mídia para conscientizar a população sobre a importância da doação de gametas, visto que dá oportunidades para que casais homoafetivos ou que sofrem de infertilidade e mulheres que optaram pela produção independente realizem o sonho de ter um filho”, finaliza o médico.

FONTE: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

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