Dia de Combate à Poluição: consumo de alimentos locais diminui emissão de poluentes
Publicado em 10 de agosto de 2022
14 de Agosto é Dia de Combate à Poluição. Segundo estudo recente, 1/5 das emissões globais relacionadas a alimentos acontece devido ao transporte, por isso cresce a recomendação para a preferência de ingestão de alimentos locais, uma prática batizada como “locavore”
alimentos locais
O transporte de alimentos constitui quase 1/5 (19%) das emissões de gases de efeito estufa relacionados ao sistema alimentar, o equivalente a 6% das emissões de todas as fontes, segundo estudo recente da Universidade de Sydney, na Austrália, e publicado na Nature Food. “Os países de alta renda são responsáveis por quase metade dessas emissões, levando os pesquisadores a concluir que, entre os ricos, a alimentação local deve ser priorizada. Em 2007, ‘locavore’ – uma pessoa que só come alimentos cultivados ou produzidos em um raio de 161 km – foi a Palavra do Ano de Oxford. Agora, 15 anos depois, o estudo pede que ela volte a ser tendência”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Esse valor é até sete vezes maior do que o estimado anteriormente e excede em muito as emissões de transporte de outras commodities. Por exemplo, o transporte é responsável por apenas 7% das emissões da indústria e serviços públicos.
Os pesquisadores dizem que, especialmente entre os países ricos, os maiores emissores de transporte de alimentos per capita, comer alimentos cultivados e produzidos localmente deve ser uma prioridade. “Locavores que vivem em áreas mais remotas às vezes expandem sua definição de alimentos cultivados localmente para incluir carne, peixe, frutas, legumes, mel e outros produtos alimentícios provenientes de fazendas e outros produtores de alimentos em um raio de 250 milhas”, diz a médica. “Os Locavores acreditam que os alimentos cultivados localmente são mais frescos, saborosos e nutritivos do que os alimentos convencionais ou importados; e que fornece uma dieta mais saudável do que a comida típica de supermercado, que geralmente é cultivada em fazendas industriais, encharcada com fertilizantes químicos e pesticidas e transportada por centenas ou milhares de quilômetros. Além disso, comer alimentos cultivados localmente apoia agricultores e pequenos negócios em suas comunidades. Mas, mais do que estabelecer uma regra, o mais importante é ter consciência de que o consumo local deve ser priorizado para redução de emissão de gases de efeito estufa produzidos pelo homem”, explica a médica.
Segundo o estudo, as emissões do transporte de alimentos somam quase metade das emissões diretas dos veículos rodoviários. “Antes do estudo, a maior parte da atenção na pesquisa de alimentos sustentáveis estava nas altas emissões associadas a alimentos derivados de animais, em comparação com plantas. Esse trabalho mostra que, além de mudar para uma dieta baseada em vegetais, comer localmente é o ideal, especialmente em países ricos”, conta a médica.
Usando sua própria estrutura chamada FoodLab, os pesquisadores calcularam que o transporte de alimentos corresponde a cerca de 3 gigatoneladas de emissões anuais – o equivalente a 19% das emissões relacionadas a alimentos. A análise incorpora 74 países (origem e destino); 37 setores econômicos (como hortaliças e frutas; pecuária; carvão; e manufatura); distâncias de transporte internacional e doméstico; e massas alimentícias. Enquanto China, Estados Unidos, Índia e Rússia são os principais emissores de transporte de alimentos, em geral, os países de alta renda são contribuintes desproporcionais. Países como Estados Unidos, Alemanha, França e Japão constituem 12,5% da população mundial, mas geram quase metade (46%) das emissões de transporte de alimentos. A Austrália é o segundo maior exportador de emissões de transporte de alimentos, dada a amplitude e o volume de sua produção primária.
As emissões de transporte também são dependentes do tipo de alimento. “Com frutas e legumes, por exemplo, o transporte gera quase o dobro do número de emissões do que a produção. Frutas e legumes juntos constituem mais de um terço das emissões do transporte de alimentos”, diz a médica. “Como vegetais e frutas exigem transporte com temperatura controlada, suas emissões de milhas alimentares são maiores”, diz o estudo.
Os pesquisadores calcularam a redução nas emissões se a população global comesse apenas localmente: 0,38 gigatoneladas, equivalente às emissões de dirigir uma tonelada até o Sol e voltar, 6.000 vezes. Embora reconheçam que esse cenário não é realista, por exemplo, porque muitas regiões não podem ser autossuficientes no abastecimento de alimentos, ele pode ser implementado em vários graus. “Além disso, os países mais ricos podem reduzir suas emissões de transporte de alimentos por meio de vários mecanismos. Isso inclui investir em fontes de energia mais limpas para veículos e incentivar as empresas de alimentos a usar métodos de produção e distribuição menos intensivos em emissões. Tanto os investidores quanto os governos podem ajudar criando ambientes que promovam o fornecimento sustentável de alimentos”, diz a médica.
No entanto, a oferta é impulsionada pela demanda – o que significa que o consumidor tem o poder final de mudar essa situação. “Mudar as atitudes e o comportamento dos consumidores em relação a dietas sustentáveis pode trazer benefícios ambientais em grande escala. Um exemplo é o hábito de consumidores de países ricos exigirem alimentos fora da estação o ano todo, que precisam ser transportados de outros lugares. Comer alternativas sazonais locais, como temos feito durante a maior parte da história de nossa espécie, ajudará a fornecer um planeta saudável para as gerações futuras”, finaliza a Dra. Marcella.
FONTE: *DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez