Exposição ‘Botannica Tirannica’, no Sesc Taubaté,propõe reflexão sobre racismo e preconceitos
Publicado em 16 de setembro de 2023
Projeto de Giselle Beiguelman mapeou centenas de espécies de plantas nomeadas com termos racistas, misóginos, racistas e antissemitas para estimular debate sobre políticas de dominação e segregação
Exposição com imagens impressas, vídeos e ensaio audiovisual é inédita no interior de São Paulo e tem entrada gratuita
O Sesc Taubaté inaugura no dia 21 de setembro a exposição “Botannica Tirannica”, da artista e pesquisadora Giselle Beiguelman, que reúne imagens impressas, vídeos e um ensaio audiovisual, espalhados na Área de Convivência e no Espaço Vida, para propor uma reflexão sobre preconceitos na botânica – e, consequentemente, no nosso cotidiano.
A mostra usa o reino vegetal para interrogar as relações entre a ciência e o colonialismo na classificação das espécies. Esse sistema “naturalizou” o racismo e preconceitos contra diversos grupos étnicos e sociais – entre eles negros, indígenas, judeus, ciganos, LGBTQIA+, mulheres e idosos – que são diminuídos e reprimidos pelo uso discriminatório da nomenclatura científica e popular.
Com curadoria de Aline Ambrósio, a exposição busca mobilizar o público a romper os binarismos impostos, as identidades fixas e as políticas de segregação e dominação.
A pesquisa
O projeto de Giselle começou a tomar forma com um fato corriqueiro: ela ganhou uma muda de Tradescantia zebrina de presente. Essa planta, tradicionalmente chamada de “judeu errante” em vários países e idiomas, despertou a artista para a questão da nomeação de espécies.
A partir dali, iniciou uma pesquisa que mapeou centenas de plantas nomeadas pejorativamente, como Orelha-de-judeu, Maria-sem-vergonha, Bunda-de-mulata, Peito-de-moça, Malícia-de-mulher, Catinga-de-mulata, Ciganinha, Chá-de-bugre, Cabelo-de-negro, Língua-de-sogra e Cabeça-de-velho.
“Minha maior surpresa foi perceber que muitas dessas plantas, que têm nomes pejorativos e preconceituosos, são ervas ditas daninhas! E lindíssimas. Esse termo tão desqualificador no pensamento hegemônico tornou-se, para mim, um símbolo de resiliência”, explica Giselle.
Ensaio audiovisual
Estreando nas unidades do Sesc, a mostra traz à tona um debate pertinente que tem como um dos destaques o ensaio audiovisual que combina imagens de arquivos à reflexão crítica, condensando a vasta pesquisa feita para a exposição “Botannica Tirannica” ao longo de um ano e meio.
Peça chave do projeto, a obra discute as formas pelas quais o preconceito racial, cultural e de gênero se fundamenta cientificamente a partir do século 19, contaminando o imaginário coletivo e desdobrando-se em linguagens, vocabulários e estéticas.
Outros pontos altos da mostra são as obras Flora Rebellis e a Flora Mutandis. A primeira é composta por uma série de vídeos generativos produzidos com Inteligência Artificial a partir de conjuntos de dados organizados relativos a plantas dotadas de nomes ofensivos e preconceituosos.
Já a Flora Mutandis, também uma série de imagens criada com Inteligência Artificial, é resultante do cruzamento de espécies de plantas dotadas de nomes científicos e/ou vulgares e ofensivos, que expressam preconceitos diversos relativos a partes do corpo e traços culturais. A nomenclatura das espécies da série Flora Mutandis foi gerada algoritmicamente a partir do embaralhamento dos nomes originais das espécies.
Jardim da Resiliência
“Toda erva daninha é um ser rebelde”. Esse dizer condensa as prerrogativas do projeto e da mostra. Composto por variadas espécies de plantas, em sua maioria ditas “daninhas”, portadoras de nomes ofensivos, misóginos, racistas e antissemitas, Giselle propõe um Jardim da Resiliência, em que essas espécies desafiam o imaginário colonialista dos processos de classificação e dominação da natureza, confrontando nomenclaturas baseadas em preconceitos.
Segundo a curadora, Aline Ambrósio, por meio de suportes distintos, a artista subverte os usos correntes da tecnologia, criando novos sentidos poéticos e novos significados políticos e sociais. “Surgem assim criaturas híbridas, surpreendentes e desconcertantes, plantas ao mesmo tempo reais e imaginárias, verdadeiras e fictícias que confundem a tal ponto que desarticulam a tendência taxonômica por meio de seus corpos estranhamente familiares, de sua plasticidade e de suas nomenclaturas intrigantes e impronunciáveis”, afirma.
A exposição “Botannica Tirannica” fica aberta ao público no Sesc Taubaté até fevereiro.
Serviço:
Exposição: Botannica Tirannica, de Giselle Beiguelman
De 21 de setembro de 2023 a 25 de fevereiro de 2024
Local: Área de Convivência e Espaço Vida.
Terça a sexta, das 9h às 21h30; sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h30
Entrada gratuita
Classificação indicativa: Livre
O Sesc Taubaté fica na Av. Engenheiro Milton de Alvarenga Peixoto, 1264. Esplanada Santa Terezinha. Mais informações e agendamento de grupos pelo telefone 12.3634.4000 ou taubate@sescsp.org.br.
Confira nossa programação completa em sescsp.org.br/taubate