Gestão de Pessoas e Saúde são os indicadores com pior avaliação em pesquisa sobre ensino municipal
Publicado em 27 de dezembro de 2023
Estudo conduzido pelo SINESP, em sua 10ª edição avalia as condições de trabalho dos gestores de educação da rede municipal de São Paulo.
Falta de profissionais, acúmulo de funções e más condições de trabalho e pressões por resultados impactaram negativamente o indicador de Gestão de Pessoas no “Retrato da Rede 2023”. Conduzido pelo Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo (SINESP), a pesquisa anual realizada com os gestores educacionais da rede municipal de ensino filiados ao SINESP tem como objetivo apontar as deficiências e os flancos deixados abertos pelo poder público na Educação Municipal.
Realizada pela internet, a pesquisa contou com a adesão de 13% dos gestores educacionais da rede municipal de ensino, o que representa um recorde de participação em relação às nove edições anteriores realizadas. Os gestores participantes responderam a 56 questões que possibilitaram o levantamento de dados em seis dimensões: Gestão de Pessoas; Apoio técnico da SME; Capacitação; Ambiente físico e equipamentos; Saúde e Violência.
Cada dimensão tem seu próprio ISEM – Índice SINESP da Educação Municipal – e também é computado o ISEM geral, que em 2023 ficou em 0,28 (o índice varia entre 0 e 1). “Esse ano o principal fator de descontentamento e insatisfação dos gestores foi observado no indicador Gestão de Pessoas, com forte ligação com outro quesito também muito mal avaliado, a Saúde. Vemos o aprofundamento de problemas de saúde dos profissionais, com uma alta acentuada nos índices de quem aponta estar com fadiga, estresse e ansiedade”, explica Norma Lúcia Andrade, presidente do SINESP.
Índice de Gestão de Pessoas tem queda de 45%
O estudo destaca uma queda acentuada no índice de Gestão de Pessoas. Em 2020, o ISEM desse indicador foi de 0,31, já no estudo realizado nesse ano, o índice caiu para 0,17, o que demonstra uma piora significativa nas condições de trabalho dos gestores educacionais.
Um conjunto de fatores interfere no trabalho na educação e, por consequência, dificulta a aprendizagem e os momentos de vivências e experiências na Rede Municipal de Ensino (RME). A falta de profissionais nas unidades e a demanda histórica de revisão dos módulos de servidores na RME apontado pelos gestores educacionais é um dos principais problemas. Segundo o levantamento, 89% dos respondentes afirmam que os módulos não são suficientes para atender as necessidades do local de trabalho e 75,8% afirmam que os módulos que têm estão incompletos.
Quando questionados sobre as dificuldades para preencher cargos/funções no local de trabalho, 81,3% citam a falta de profissional para a substituição, 29,2% apontam a legislação restritiva como um empecilho e 29% creditam à demora na tramitação dos concursos.
Ainda como um demonstrativo do excesso de trabalho e da falta de profissionais na Rede Municipal, 85% dos entrevistados afirmam que são obrigados a levar trabalho para ser realizado fora do horário de expediente.
Saúde tem o menor índice entre todos os indicadores
Como consequência da precarização e do excesso de trabalho, os profissionais também relatam a piora em seus quadros de saúde. Apesar de o índice do indicador de saúde ter apresentado uma pequena melhora entre 2020 e 2023 (0,14 para 0,16), a média obtida ainda é a pior entre todos os indicadores.
Além disso, quando perguntados sobre os sintomas de doenças e motivos de adoecimentos, 74% afirmavam estar com fadiga e/ou cansaço; 70% com ansiedade e 54% sofrerem de estresse.
Violência nas Escolas: 62,5% apontam falta de segurança no local de trabalho
Outro indicador que está interligado ao da saúde e de gestão de pessoas é o da violência. Apesar de o indicador ter crescido de 2020 para 2023 (0,36 para 0,44), os problemas com violência e insegurança nos locais de trabalho continuam presentes no dia a dia dos gestores educacionais. Além disso, os casos midiáticos de violência que aconteceram esse ano em duas escolas de São Paulo, ocorreram após o levantamento ter sido finalizado e podem impactar fortemente os resultados do índice de 2024.
De toda forma, 62,5% dos entrevistados acreditam que o local de trabalho não é seguro. 51% afirmam que essa percepção ocorre em função da falta de vigilância/policiamento, 30% acreditam que é por conta de problemas no entorno das escolas e 10,5% devido a episódio de violência dentro do local.
Os problemas do entorno apontados no estudo mostram, na verdade, que a cidade não está tendo zeladoria.74,7% apontam a falta de segurança/assaltos/drogas como principal problema, já 67,3% elencam como problema o acúmulo de lixo/ratos/mato/mosquito e 49,6% ruas esburacadas/asfalto ruim/sem sinalização/estreita/sem iluminação.
“Com esse Retrato da Rede Municipal de Ensino buscamos reforçar o compromisso do SINESP com uma educação básica de qualidade, equalitária e inclusiva para todos os cidadãos, monitorando de perto as condições da Educação municipal em São Paulo”, complementa Norma.
Mudança em 2024: estudo será conduzido pelo DIEESE
Uma mudança significativa será implementada em 2024, com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIESE) assumindo a elaboração e aplicação da pesquisa. Essa transição visa aprimorar a precisão e a abrangência da pesquisa.
“A parceria com o DIEESE visa a iniciar uma nova fase na forma de escuta e de qualificação das ações de apoio aos gestores”, finaliza a presidente do sindicato.
Sobre o Retrato da Rede
A pesquisa anual realizada pelo SINESP para constituir o Retrato da Rede completa 13 edições. A representatividade e a credibilidade dos resultados obtidos sempre foram cientificamente confiáveis. Essa segurança vem dos critérios científicos que ancoram a condução da pesquisa, e da amostragem, que abarca em torno de 10% do total de Gestores Educacionais da Rede.