RELACIONAMENTOS EM TEMPO DE CRISE Por Camilla Juliana
Publicado em 8 de abril de 2020
Falar sobre relacionamento nos dias de hoje não é uma tarefa fácil. Primeiro, porque eles se configuram das mais diversas formas: alguns são formais, com cerimônias na igreja e véu e grinalda; já outros, nunca sequer se formalizam, mas são perfeitos, pois envolvem reservas de gavetas e portas de armário na casa do ser amado. Quando vêm os filhos tudo muda, alguns relacionamentos se fortalecem, enquanto outros sucumbem.
Fato é que não existem regras, nem certo e errado. Além disso, não existe espaço para julgamentos, o que se sabe é que invariavelmente a rotina massacra o amor e se não houver um esforço mútuo e contínuo para manter o relacionamento vivo ele tende a ir esmorecendo com o tempo. Houve tempo em que se acreditava que os relacionamentos deveriam durar a vida inteira, não importando se havia amor. Hoje o lema foi trocado para “que seja eterno enquanto dure.”
Quais os efeitos disso? O número de divórcios e dissoluções de uniões estáveis cresceu exponencialmente, trazendo a baila do mundo jurídico novas questões e novos modos de enfrentamento da questão. Foi neste cenário que a mediação e as práticas de direito sistêmico tiveram sua importância reforçada, haja vista que em processos envolvendo questores familiares a aplicação da lei seca muitas vezes mais fere as partes do que efetivamente resolve a demanda.
Ter a sensibilidade de encarar um processo familiar com empatia e compaixão é um desafio que envolve uma mudança de paradigmas na esfera judicial. Frases como “advogado bom é aquele bom de briga” ou “só falo com você na presença de um juiz” revelam uma sociedade extremamente imatura que se exime da solução dos próprios problemas, sempre esperando que o fim venha de um terceiro. A mediação devolve às partes o poder de solucionar suas vidas, dando a elas autonomia para a fixação de acordos e soluções viáveis e adequadas ao modo de vida de cada casal ou família envolvida.
Quem melhor do que um pai e uma mãe para definir as diretrizes da vida de um filho ainda pequeno? Quem melhor do que dois adultos que por anos mantiveram uma união amorosa para definir o modo como se encerrará a vida conjugal que tiveram? A experiência jurídica leva a crer que em direito de família poucos casos merecem o peso de uma sentença judicial. Na maioria das vezes o que se vê são casos em que a demanda jurídica corresponde a 5% do processo, enquanto os 95% restantes são permeados por sentimentos extremamente difíceis de serem encarados: ciúmes, raiva, ódio, rancor, rejeição e falta de diálogo.
Neste sentido a mediação e as práticas conciliatórias têm tido excelentes resultados, trazendo a tona o enfrentamento de traumas e questões mal resolvidas. O ganho transcende o mundo jurídico, uma vez que devolve a paz aos envolvidos. Importante ressaltar que ainda existem casos que terão de ser vivenciados judicialmente com todas os atos pertinentes, isto nunca cairá em desuso. O que se evidencia neste momento é a importância que as partes devem ter na solução de seus próprios problemas, cabendo ao operador do direito ser apenas o intermediador com a correta adequação das leis a vontade manifestada. Com isso ganham todos: as partes que se sentem plenamente atuantes e participativas; os advogados; a sociedade e a Justiça como fonte de efetiva pacificação.
Parabenizo a Dra. Camilla Juliana pela brilhante exposição de fatos e realidades, assim como as suas resoluções conclusivas.
Uma separação não é algo fácil, ter alguém conciliando pode ser algo menos traumático, especialmente se nesta relação tiver filhos envolvidos.
Parabéns Dra Camila pela excelente explanação